Mais de 1800 dias se passaram desde a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes. São 5 anos de espera e injustiça. E a pergunta continua e continuará latente até que tenhamos resposta: quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Gomes?
Marielle foi morta por representar a revolução de uma sociedade na qual mulheres pretas, periféricas, militantes, mães e LGBTs têm suas vozes silenciadas. Foi assassinada por representar o retrato do Brasil que ousa mais do que sonhar, ousa lutar. Ela foi executada por se opor à milícia, que agride e viola direitos da população, por lutar por mais dignidade para o povo.
O assassinato de Marielle em 2018 se insere num contexto de avanço da extrema-direita. Avanço este que começou em 2016 com o golpe contra a presidenta Dilma, orquestrado por meio de uma narrativa misógina e machista, seguido da prisão ilegal do presidente Lula, com o objetivo claro de retirá-lo da disputa eleitoral.
O ápice desse projeto conservador, reacionário e com características fascistas foi a eleição do ex-presidente Bolsonaro, também em 2018. Presidente que “legalizou” a violência política, naturalizou discursos e práticas de ódio contra as mulheres, as pessoas negras e LGBTs e a população pobre e periférica, mais uma vez tendo sua voz abafada e sendo obrigada a sair do espaço político conquistado há pouco tempo.
Dia Nacional Marielle Franco
Vale lembrar que ainda no mês de março tivemos a iniciativa de criação do Dia Nacional Marielle Franco de Enfrentamento da Violência Política de Gênero, para fazer face aos ataques pessoais, violências e silenciamentos. Que são marcas de um jogo político paternalista e machista, e que impõe ataques às mulheres que ousam ocupar espaços de poder.
E os ataques misóginos no espaço político não param por aí. Recentemente, no dia 29 de março de 2023, em reunião da Comissão de Administração Pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o deputado estadual Coronel Sandro (PL) proferiu expressões machistas e preconceituosas contra a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT). Numa atitude violenta que tinha claro objetivo de diminuir, coagir, humilhar e silenciar a deputada.
Nossa militância diária por memória e justiça por Marielle é, também, a luta para que nos seja assegurado nosso lugar na política, na sociedade e garantida a defesa da democracia. As mulheres, as pessoas LGBTQIA+, a população negra e periférica, precisam ter seus corpos e vidas respeitados, não admitiremos discursos que agridam nossas existências. Nossa baixa representatividade na política tem base na violência que tenta nos impedir de ocupar os espaços de poder e decisão, que nos foram historicamente negados.
Assassinaram Marielle Franco, mas jamais o que ela representa. Marielle era semente e germinou. Lutamos para que essa semente permaneça viva, cresça e se multiplique, na luta por justiça racial, de gênero, social, climática e constitucional.
Artigo publicado na coluna mensal no portal Brasil de Fato Minas Gerais.